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SAY HELLO TO MY BOOKS

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Sab | 30.05.20

As velas ardem até ao fim, Sándor Márai

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Que descoberta preciosa! Há muito tempo que não sublinhava ou marcava tanto um livro. É difícil descrevê-lo, talvez porque qualquer descrição irá ficar aquém da forma magistral como Sandór Márai criou esta história.


É um livro para sentir. Não aconselhado a quem gosta de muita acção e reviravoltas. Na verdade, aqui pouco se passa. Dois amigos encontram-se passados 41 anos sem contacto, numa longa conversa (ou monólogo) que acompanhamos, com expectativa, embalados pela escrita e hipnotizados pelas reflexões sobre Amizade, Solidão, Vida...das mais bonitas e verdadeiras que já li. Toda a narrativa segue um crescendo, que nos envolve nas memórias de Hénrik e Konrád, na ligação que tiveram no passado, no segredo que os fez afastarem-se e que nos deixa ansiosos para perceber como irá terminar este derradeiro encontro. Confesso que, embora esse segredo pareça óbvio para muitos, desde cedo, a minha interpretação leva-me a acreditar numa realidade diferente. Parava no final de cada capítulo para digerir todas as mensagens, para rever atitudes e questionar-me a mim própria. Este livro tanto é uma chapada na cara, como um conforto no coração. Que mensagens fortes. Que hino às relações humanas.

 

Ao terminar, é inevitável não pensar em tudo o que Sandór Márai terá passado, para conseguir chegar a este nível de lucidez intelectual. Gostava eu de saber escrever assim. "As velas ardem até ao fim" (título que encaixa na perfeição), marcou-me profundamente e vai ficar comigo muito tempo. Acho que sou outra pessoa depois deste livro, e isso aconteceu com poucos, raríssimos. E, mais uma vez, a certeza de que os livros no chegam no momento certo. 

 

Lido para o primeiro mês do Clube de Leitura da Leya, "Próximo Capítulo". Tornou-se um preferido da vida. 

 

Título: As velas ardem até ao fim

Autor: Sandór Marái

Edição: D. Quixote (2001)

Ano da primeira publicação: 1942

 Nº páginas: 153

 

Sab | 09.05.20

A morte de Ivan Ilitch, Lev Tolstoi

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Foi o primeiro livro que li este ano, em Janeiro, para o Clube dos Clássicos Vivos. No encontro, percebi que o livro tinha suscitado emoções fortes em algumas pessoas, que se tinha tornado um livro preferido, que o facto de falar de morte, doença e solidão as tinha tocado profundamente. A minha experiência com este livro foi um pouco diferente, mas falo disso mais abaixo.

 

Ivan Ilitch é um homem "sem sal", sem grande personalidade, sem grandes feitos. Vive para o trabalho, muito orientado pelas convenções sociais. Quer pertencer à sociedade e fazer tudo exatamente como os seus pares, sem dar grande importância à vida familiar, sem ter hobbies, talentos ou grandes interesses. Pouco se importa que a convivência com a mulher seja um inferno, não tem grande intimidade com os filhos e prefere passar mais tempo no trabalho do que em casa. E todos sabemos os problemas que essa escolha acarreta, mesmo que seja no século XIX. Então, considera-se um homem de sucesso...até ficar doente! A partir daí, acompanhamos a decadência de Ivan Ilitch, os doloridos e agonizantes últimos meses de vida, enquanto vai definhando e enlouquecendo. A família, fútil e indiferente à sua condição, continua a viver a vida como se nada se passasse. Só o criado acaba por mostrar alguma humanidade e dar-lhe algum conforto. A visão da vida transforma-se à medida que a morte se aproxima. A morte, um tema comum e inevitável na vida de qualquer ser humano. E é aqui que Ivan Ilitch começa a perceber que talvez não tenha vivido como deve ser, que provavelmente a sua existência foi medíocre, o que o faz questionar todo o seu percurso e decisões, com a angústia de saber que já não consegue mudar nada.

 

É desconfortável acompanhar o dia-a-dia de uma personagem moribunda e isso Tolstoi faz de forma brilhante. Mas não posso dizer que o livro me tenha marcado. Não posso dizer que foi uma leitura inesquecível. Achei aborrecido, por vezes, ainda que tenha menos de cem páginas. Mas está feita a minha introdução a Tolstoi e isso valeu a pena.

 

Título: A morte de Ivan Ilitch

Autor: Lev Tolstoi

Edição: Leya: Bis (coleção de livros de bolso), 2008

Ano da primeira publicação: 1886

 Nº páginas: 91

Qui | 07.05.20

Todos os dias

Acordar, alongar.

Beber café, com a brisa doce e fresca da Primavera no jardim. 

Descobrir músicas novas. Ouvir as de sempre. Playlists ecléticas no Spotify. 

Procrastinar nas redes sociais. Fartar-me das redes sociais. 

Ler mensagens e responder a emails.

Trabalhar. O possível, neste momento. Fazer pesquisas, contactos, telefonemas. Está tudo parado. Está tudo a voltar. Máscaras, luvas, higiene e segurança. O novo normal, dizem. Recusar voltar aos transportes públicos, para já. Fazer contas ao orçamento da gasolina e parquímetro para os próximos meses. 

Tentar não comer pão. Fazer torradas. 

Ver os números do dia. Respirar fundo. 

Cozinhar. Muito. Ervas aromáticas são vida. 

Ler ao sol depois de almoço. Mesmo que não esteja sol. Ler. 

Trocar áudios com amigas no Whatsapp. 

Stressar com trabalho. Acalmar. Encontrar soluções. 

Pensar que é mais um dia. Está tudo bem, todos com saúde. 

Está sol, bom para estender a roupa. Mesmo que não esteja sol. Estender a roupa. Cesto totalmente vazio, será sempre lembrado como uma conquista deste período.

Fazer uma aula de yoga pelo Youtube. Experiência recente. Pensar que é impossível esticar as pernas como ela, mas tentar. Não conseguir contorcer o corpo como ela, mas sentir-me bem. Odiar cada minuto, mas gostar no fim.

Vontade de doces. Controlar a vontade. Lá vai uma taça de gelado. 

Merda do gajo que passa sempre a acelerar na minha rua. 

Abriram as livrarias. Saudades da Feira do Livro. E dos jacarandás em flor. 

Comer um prato de massa ao jantar ou só sopa?

Dar espaço a pensamentos que só chegam ao final do dia. Apreciar o céu estrelado e limpo. Confiar.

Ver um filme ou uma série? 

Ter insónias. Fazer pesquisas sem sentido no Google. Deslizar pelo feed do Instagram. Pensar no argumento de uma discussão de 2009 que devia ter dito e não disse. Questionar-me porque não conseguimos espirrar de olhos abertos. Ver koalas bebés. Será que ainda sei de cor todas as músicas dos Backstreet Boys? 

Três da manhã. Tenho que dormir. Amanhã (hoje) é um novo dia. 

 

Ter | 05.05.20

As minhas palavras preferidas em português

A celebração do Dia Mundial da Língua Portuguesa parece-me um ótimo pretexto para listar as minhas palavras portuguesas preferidas, seja pela palavra em si, pela fonética ou pelo significado. São 50 palavras que têm cor, cheiro, abraço e emoção.

 

Morango             Saudade             Maresia            Canela           Liberdade      

Girassol            Mãe            Limão            Caranguejo           Café        

Beija-flor            Cereja             Pipoca            Coragem            Amora           

Fábula            Cogumelo             Paz            Outono            Vida        

Cultura            Ventania            Lenga-lenga            Biblioteca            Caramelo   

   Baunilha            Pai            Castanha            Sintonia            Pipoca

Nêspera            Papoila            Ziguezague            Pirilampo           Cajú

         Sol            Aventura            Violeta            Amigo            Bolacha

Petisco            Amor            Mensagem            Praia            Rebuçado

    Pêssego            Caracol            Brisa            Vamos            Sempre

 

Por outro lado, há palavras que não suporto. Assim de repente, lembrei-me de três:

Umbigo / Axila / Detergente

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