7 Mulheres incríveis da Literatura que quero ler
Depois de falar de 7 Mulheres incríveis da Literatura que já li, hoje falo de 7 autoras que ainda não li, mas tenho muita, muita vontade. Seja porque são mulheres que estiveram à frente do seu tempo, que lutaram e lutam pelo poder e igualdade de género, porque escreveram obras que marcaram gerações e porque são verdadeiras inspirações.
Selma Lagerlöf (1858-1940)
Escritora sueca, foi a primeira mulher a ganhar o Nobel da Literatura, em 1909, "pela sua escrita caracterizada por um idealismo nobre, imaginação fértil e equilíbrio dos seus textos". Tinha 51 anos na altura, e se isto não é um grande feito, então não sei o que será.
Antes, em 1882, Selma entrou para uma escola que formava professoras e que se preocupava com a causa feminista, incentivando a independência e o progresso social da mulher, o que muito influenciou a escritora. Chegou, a certa altura, a cortar os cabelos compridos que usava com tranças, num gesto que era visto como escandaloso, na época, e como sinal de emancipação feminina. Way to go, girl!
Tornou-se professora de História e escreveu um livro para crianças da escola primária, que ensinava a História e Geografia do seu país. Lançado em 1907 "A Maravilhosa Viagem de Nils Holgersson através da Suécia" foi um sucesso e, a partir daí, Selma nunca mais parou. Em 1890, participou num concurso de contos com alguns capítulos de um romance que estava a escrever e ganhou o seu primeiro prémio em dinheiro. Não esquecer que estamos a falar do século XIX!! Em 1891, publicou o romance completo, "A Saga de Gösta Berling", a que se seguiram "Os Laços Invisíveis", "Os Milagres do Anticristo", e "Jerusálem", este último após uma viagem ao Egipto e à Palestina, entre outras obras. Já então era considerada uma das maiores escritoras suecas. Há várias obras dela publicadas em Portugal, tanto para um público mais adulto, como para leitores mais jovens, como é o caso de "O Tesouro".
Simone de Beauvoir (1908-1986)
Simone de Beauvoir foi uma escritora francesa, intelectual, filósofa existencialista, activista política e, sobretudo, feminista. De boas famílias, estudou na Sorbonne e escreveu desde romances a ensaios sobe Filosofia, Política e questões sociais. Teve uma relação aberta (e muito estranha) durante a vida toda com o escritor Jean-Paule Satre. Simone tinha casos com outras mulheres e permitia também traições ao companheiro, chegando a fazer arranjinhos com alunas suas e sendo acusada, posteriormente, de as seduzir. Polémicas pessoais à parte, Simone estava à frente do seu tempo. Conquistou um grau académico avançado, lutou por causas políticas e viajou bastante.
As obras que mais tenho curiosidade em ler são "A Convidada", a primeira que publicou, em 1943, e "O Segundo Sexo", de 1949. Este livro recebeu variadíssimas críticas, pois a autora faz uma análise da opressão das mulheres, quase como um tratado do feminismo. Como existencialista, Simone acreditava que a existência precedia a essência e, portanto, não se nasce mulher, torna-se. Aquela célebre frase que vemos por aí em imagens partilhadas no Facebook. A autora argumenta que os homens tornaram as mulheres no "outro" da sociedade, usando isto como desculpa para não compreender os seus problemas, em vez de as apoirem. Escreveu que esta opressão hierárquica é a mesma que acontece em relação à raça, classe ou religião. É uma reflexão interessante e muito polémica na época, estamos a falar do final dos anos 40, na Europa. Simone argumenta que os homens estereotipam as mulheres e usam isto como uma desculpa para organizar a sociedade num sistema onde o pensamento masculino tem preeminência. Hoje, quase 70 anos depois, sabemos que esta mentalidade ainda predomina em muitos sítios.
Maya Angelou (1928-2014)
Maya Angelou, pseudónimo de Marguerite Ann Johnson, foi uma escritora americana, poeta e activista dos direitos civis, que lutou ao lado de Martin Luther King e Malcolm X. Ser uma mulher negra e pobre nos EUA, na altura em que nasceu, não era fácil. Foi vítima de abusos sexuais em criança e passou anos sem conseguir falar com o trauma. Foi mãe solteira ainda adolescente. Mas era uma mulher de fibra e aos 17 anos tornou-se na primeira motorista negra de autocarros em São Francisco. #girlpower! Mais tarde, tornou-se na primeira mulher negra a ser argumentista em Hollywood. #aindamaisgirlpower! Na década de 50 afirmou-se como actriz, cantora e dançarina em várias peças de teatro.
É uma das escritoras negras mais lidas nos Estados Unidos. Entre as suas obras mais conhecidas estão "I Know Why the Caged Bird Sings", de 1969, e "Carta à minha filha: dedicado à filha que nunca tive", de 2008 e editada em Portugal pela Estrela Polar. É pena que mais obras suas não estejam editadas em Portugal. Recentemente a sua obra "Mom&Me&Mom" foi muito falada, quando Emma Watson, actriz e feminista assumida, espalhou vários exemplares do livro pelo metro de Londres, numa tentativa de fazer chegar (boa) literatura a toda a gente.
Era tão admirada que foi até convidada a ler poesia na tomada de posse de Bill Clinton, em 1993, e na de Barack Obama, em 2009. Dois anos depois, Barack Obama entregou-lhe a maior distinção civil norte-americana, a Presidential Medal of Freedom. Foi professora de Estudos Americanos na Wake Forest University que afirmou, na data da sua morte, “era um tesouro nacional, cuja vida e ensinamentos inspiraram milhões de pessoas pelo mundo”. E o mundo precisa de mais pessoas assim.
Svetlana Alexievich (1948-data actual)
Escritora e jornalista bielorusa, foi a última mulher a ser premiada com o Nobel da Literatura, em 2015, "pela sua escrita polifónica, monumento ao sofrimento e à coragem na nossa época". Os seus livros têm sempre por base histórias reais ligadas a momentos dramáticos da História recente da humanidade. Seja "Vozes de Chernobyl", sobre as pessoas que sofreram de perto com o desastre nuclear, (é o que tenho mais vontade de ler), "Rapazes de Zinco", sobre o exército soviético que combateu o Afeganistão, "A Guerra não tem rosto de mulher", que dá voz a centenas de mulheres que revelam pela primeira vez a perspetiva feminina da Segunda Guerra Mundial ou "O Fim do Homem Soviético", que se baseia nos testemunhos de homens e mulheres pós-soviéticos, os humilhados e ofendidos, para manter viva a memória da tragédia da URSS. Svetlana dá a conhecer ao mundo histórias reais que muitas vezes ficam perdidas no tempo. Testemunhos que não nos chegariam hoje de outra forma. Merece todo o reconhecimento e mérito que tem. Como jornalista, é um trabalho que qualquer um gostaria de fazer. Admiro-a bastante.
Já recebeu vários prémios internacionais, está traduzida em dezenas de línguas e algumas das suas obras foram adaptadas a peças de teatro e documentários.
Xinran (1958-data actual)
Xinran é uma jornalista, radialista e escritora chinesa. Nasceu em Pequim, mas vive em Londres desde 1997. Durante oito anos, a jornalista apresentou, na China, um programa de rádio, chamado "Palavras na Brisa Nocturna" em que muitas mulheres falavam de si próprias e da sua vida, revelando o que significa ser mulher na China de hoje. Foi um sucesso tal que Xinran decidiu pôr as histórias em livro. Através dos relatos de várias mulheres que entrevistou ao longo de sua carreira, traça um panorama sobre a condição feminina da China.
Confesso que não conhecia a autora até há pouco tempo quando dei de caras com o livro "Mulheres da China", que teve que vir cá para casa e será dos próximos a ser lidos. A autora dá voz aos segredos e receios das mulheres chinesas, que contam as razões do seu sofrimento, num país onde as mulheres são vistas ainda como um ser inferior. O The Guardian escreveu: "Uma mulher quebrou o silêncio e veio revelar ao Ocidente como vivem ainda hoje as mulheres da China, em testemunhos dolorosos e comoventes".
Em Portugal está também editado "Mensagem de uma Mãe Chinesa Desconhecida", um livro que traz testemunhos de mães chinesas que perderam ou tiveram que abandonar as suas filhas, seja como consequência da política do filho único ou da necessidade económica. Mulheres que tiveram que entregar as suas filhas para adopção ou foram obrigadas a abandoná-las nas ruas da cidade. Este é um tema que sempre me despertou interesse. Desde que me lembro que leio artigos e notícias sobre isto e estou louca para ler este livro também. No geral, os seus livros falam de mulheres, levando a voz feminina de mães, esposas, filhas, irmãs para o mundo.
Chimamanda Ngozi Adichie (1977-data actual)
Devo ser a única pessoa no mundo que ainda não leu nada da Chimamanda. Está na TBR há séculos e nem sei dizer em qual das obras quero pegar primeiro. Se o "Amricanah", se A cor do hibisco" ou "O meio sol amarelo". Dizem maravilhas da sua escrita e das histórias que põe no papel. Já para não falar no "Todos devemos ser feministas", um livro que é, no fundo, o seu discurso feito no TED talk, em 2012, onde partilhou a sua experiência de ser uma feminista africana, e sua visão sobre construção de género e sexualidade. Curiosidade: este discurso foi incorporado, em 2013, na música "Flawless" da Beyoncé. Like that!
Chimamanda é nigeriana e reconhecida, hoje, como uma das mais importantes jovens autoras africanas que está a levar literatura africana aos quatro cantos do mundo. Tem um mestrado em escrita criativa e recebeu o título de Master of Arts em Estudos Africanos pela Univrsidade de Yale. Já para não dizer que foi a primeira mulher a ser Chefe da Administração da Universidade da Nigéria. Well done!
Malala Yousafzai (1997-data actual)
Não preciso escrever muito sobre a Malala, porque todos sabem quem é. A miúda paquistanesa que foi baleada na cabeça aos 15 anos por defender a educação feminina. Não só sobreviveu, como contou a história dela ao mundo e foi a pessoa mais nova de sempre a receber o Prémio Nobel da Paz, em 2014. Acho incrível que quando Obama a recebeu na Casa Branca, Malala tivesse sugerido que enviasse livros, canetas e professores para o Afeganistão, em vez de armas, tanques e soldados. "A melhor maneira de combater o terrorismo é através da educação", disse. Leva muito a sério o seu papel de activista pela educação e direitos das mulheres. E não vamos esquecer que é só uma miúda que, tal como nós, gosta de ler, de ver séries, de sair com as amigas... Mas ao mesmo tempo é um exemplo e uma força da natureza, que luta pelo que acredita, contra tudo e todos. A minha admiração por ela é enorme. E, porque ainda não li o seu livro, está nesta lista por tudo o que representa.