As velas ardem até ao fim, Sándor Márai
Que descoberta preciosa! Há muito tempo que não sublinhava ou marcava tanto um livro. É difícil descrevê-lo, talvez porque qualquer descrição irá ficar aquém da forma magistral como Sandór Márai criou esta história.
É um livro para sentir. Não aconselhado a quem gosta de muita acção e reviravoltas. Na verdade, aqui pouco se passa. Dois amigos encontram-se passados 41 anos sem contacto, numa longa conversa (ou monólogo) que acompanhamos, com expectativa, embalados pela escrita e hipnotizados pelas reflexões sobre Amizade, Solidão, Vida...das mais bonitas e verdadeiras que já li. Toda a narrativa segue um crescendo, que nos envolve nas memórias de Hénrik e Konrád, na ligação que tiveram no passado, no segredo que os fez afastarem-se e que nos deixa ansiosos para perceber como irá terminar este derradeiro encontro. Confesso que, embora esse segredo pareça óbvio para muitos, desde cedo, a minha interpretação leva-me a acreditar numa realidade diferente. Parava no final de cada capítulo para digerir todas as mensagens, para rever atitudes e questionar-me a mim própria. Este livro tanto é uma chapada na cara, como um conforto no coração. Que mensagens fortes. Que hino às relações humanas.
Ao terminar, é inevitável não pensar em tudo o que Sandór Márai terá passado, para conseguir chegar a este nível de lucidez intelectual. Gostava eu de saber escrever assim. "As velas ardem até ao fim" (título que encaixa na perfeição), marcou-me profundamente e vai ficar comigo muito tempo. Acho que sou outra pessoa depois deste livro, e isso aconteceu com poucos, raríssimos. E, mais uma vez, a certeza de que os livros no chegam no momento certo.
Lido para o primeiro mês do Clube de Leitura da Leya, "Próximo Capítulo". Tornou-se um preferido da vida.
Título: As velas ardem até ao fim
Autor: Sandór Marái
Edição: D. Quixote (2001)
Ano da primeira publicação: 1942
Nº páginas: 153