O Rei de Havana, Pedro Juan Gutiérrez
Não gostei deste livro. Nunca tinha ouvido falar do autor, nem sabia do que o livro tratava, portanto não tinha expectativas. Estava a poucas semanas de viajar para Cuba e queria ler um autor cubano, especialmente um livro que se passasse em Havana, para conhecer um pouco mais da cultura deles. Encontrei "O Rei de Havana" na biblioteca e decidi que era este que ia ler. A contracapa deixou-me curiosa, lê-se "Uma espécie de Bukowski do Caribe ou de Henry Miller de Havana", escrito pelo Tribuna. Fasquia lá no alto, portanto. Adoro Bukowski, isto só pode ser bom, pensei eu. Pois foi mau.
Custou-me muito ultrapassar as trinta primeiras páginas. Andei a mastigá-las tempo demais. Forcei-me a continuar. É a história de Reinaldo, um miúdo de 17 anos que foge do reformatório, sem família - de cuja morte foi acusado - e vai fazendo o que pode para sobreviver nas ruas pobres de Havana. Pede esmola, rouba comida, mete-se com mulheres e homens que lhe possam dar um espacinho para dormir, um bocado de comida e alguma atenção. Passa por várias situações complicadas - chamaria aventuras, se não fosse apenas o instinto de sobrevivência a falar mais alto - e acompanhamos esta jornada que se transforma num ciclo vicioso, numa espiral de autodestruição. Apaixona-se. Tem relações com várias pessoas ao longo de todo o livro. Rei, o nome pelo qual responde, é violento, mas também sensível. Sobrevive a cigarros, rum, marijuana e as migalhas que lhe vão caindo no estômago.
Até aqui tudo muito bem. Não fosse a escrita de Pedro Juan Gutierrez ser "desgarrada, cruel, autêntica" como vem descrito também na contracapa. Eu descreveria-a como crua e demasiado real - baixo nível até. Não posso transcrever aqui nenhuma passagem com medo de ferir susceptibilidades e pior, haver menores de idade a lerem isto. Mas posso dizer que nunca tinha lido nada tão explícito em termos sexuais. Não só do acto em si, como de expressões, sensações, emoções dele e de pessoas que o rodeiam. Mas de forma feia e básica demais. Calão e asneiras para dar e vender frase-sim-frase-não. Depois, achei muito repetitivo. Acontecimentos da história que se vão repetindo, diálogos muito iguais entre personagens diferentes. Já revirava os olhos. Sinto que 95% do livro foi andar sempre à volta do mesmo, mudando só de cenário, mas sem acrescentar nada. Para minha surpresa, não desgostei do final. Previsível, mas trabalhado de uma forma que não estava à espera. Analisando o todo, acredito que Pedro Juan Gutierrez escreveu sobre uma realidade que conhece bem - isso é visível - mas sem grande esforço para tornar a obra um bocadinho mais literária.
Podia processar o autor pelas rugas de expressão que ganhei por ter passado a leitura toda com a testa franzida, enojada, incrédula e aborrecida com certas descrições, diálogos e pormenores. Se me pedissem para resumir o livro, seria algo como: sexo - miséria - sexo - prostituição - álcool - sexo - violência - sexo - fome - sexo - pobreza - sexo, num cenário apocalíptico.
O livro foi lançado em 1999 e a história passa-se nos anos 90. Não duvido que se vivesse assim em Havana. Estive lá, vi a miséria de perto, prédios em ruínas com pessoas a viver lá dentro, crianças a pedir dinheiro, miúdas a prostituirem-se, pessoas com roupas velhas, sujas e rotas, etc. Acredito que há vinte anos, antes de ser levantado o embargo económico, comercial e financeiro imposto a Cuba pelos EUA, a realidade fosse cem vezes pior. Em teoria, a realidade está bem representada. Na prática, o conteúdo é mau. Considerei-o uma das piores leituras de 2017. E leva duas estrelas em vez de uma, pelo simples facto de retratar um período e um estilo de vida em Havana, que acho estar fiel à realidade.
Título: O Rei de Havana
Autor: Pedro Juan Gutierrez
Edição: Dom Quixote, 2000
Ano de publicação: 1999
Nº páginas: 193