Sensibilidade e Bom Senso, Jane Austen
Este foi o primeiro livro que Jane Austen publicou e o segundo que li dela (o primeiro foi "Orgulho e Preconceito" há uns anos). Este ano decidi começar a ler os romances dela por ordem cronológica de publicação. O primeiro, publicado em 1811, é "Sensibilidade e Bom Senso", cujas protagonistas são Elinor e Marianne Dashwood, duas irmãs da classe média inglesa.
Com personalidades distintas e uma visão do mundo e do amor completamente oposta, Elinor, a mais sensata, é a mais sensata, mais racional, boa ouvinte e conselheira, que pensa nos problemas com pés e cabeça. Já Marianne é apaixonada, dramática, impaciente e sofre intensamente com os males de amor. Cada uma com as suas qualidade e defeitos mostra-nos que Jane Austen, no início do séc. XIX, sabia ler bem a alma feminina e os segredos do coração, ainda que nunca se tenha casado, algo pouco comum para a época.
A história começa quando o pai morre e a propriedade onde vivem é herdada por John, irmão mais velho e filho do primeiro casamento. Por isso, Elinor e Marianne, juntamente com a mãe e Margaret, irmã mais nova, têm que sair do casarão onde sempre viveram. Acabam por instalar-se noutra cidade, numa casa mais modesta, gentilmente cedida por Sir John Middleton, um primo afastado da mãe, que acaba por integrá-las no seu grupo de amigos, convidando-as para festas, convívios sociais e até viagens a Londres. É através destes momentos que elas conhecem John Willoughby, um jovem atraente que não é o que parece, Coronel Brandon, que esconde um mistério que faz o leitor ficar curioso, Mrs. Jennings, uma viúva rica, responsável por alguns momentos cómicos e constrangedores, entre outros personagens que vão acompanhar a vida das irmãs Dashwood.
É no meio desta azáfama que Elinor e Marianne se vão apaixonar, cada uma pelo seu cavalheiro, e mais não conto, porque não quero dar spoilers a ninguém. Só digo que, ao melhor estilo Jane Austen, nenhuma das paixões é linear, há sempre problemas, trocas, mal entendidos, enganos, enfim...tudo o que um bom romance deve ter.
Mas obviamente que não podemos ler Jane Austen com um olhar contemporâneo. Temos que ter noção da época em que o livro foi escrito e, consequentemente, da sua narrativa mais lenta. Gostei do início e gostei muito dos capitulos finais, mas confesso que andei ali a mastigar um bocadinho o meio da história, parecia que não avançava, que nunca mais chegávamos a lado nenhum. Mas fui seguindo esse ritmo lento e acabou por correr tudo bem.
Edição maravilhosa da Barnes & Noble, que traz os sete romances publicados por Jane Austen.
(comprei na Amazon)
"Sensibilidade e Bom Senso" acaba por ser um retrato psicológico e social da pequena burguesia inglesa do início do século XIX. E o que achei mais interessante na obra é que toda ela está escrita seguindo uma ideia de oposição, a começar pelo título: sensibilidade vs bom senso. Temos também a personalidade oposta das irmãs (Elinor mais sensata e racional, Marianne mais emotiva e passional), e ainda o estilo dos seus pretendentes (Edward mais introvertido e tímido e Willoughby mais extrovertido e bon vivant), enquanto temos a divisão de ideais entre as irmãs Dashwood e as irmãs Steele com o casamento por conveniência em contraste com o casamento por amor. Esta dicotomia entre sensibilidade e bom senso é muito comum, ainda hoje, quando falamos de natureza humana, mas também era muito comum no contexto em que a obra foi publicada, numa época em que o Romantismo se caracterizava pela expressão dos sentimentos ao contrário dos valores do Iluminismo que defendia a razão.
Ao longo da leitura percebemos que a própria Jane Austen tende a defender mais o lado do bom senso, mas no fim o que interessa é haver um equilibrio e acho que essa é a maior lição que este livro nos passa. Principalmente com o desfecho de Marianne.
Jane Austen aproveita para tecer algumas críticas à sociedade do seu tempo utilizando humor, ironia e expondo alguns dos seus personagens ao rídiculo. Mesmo a busca de um final feliz pelas duas irmãs, é uma crítica ao tipo de vida e realidade que a mulheres enfrentavam naquele tempo, em que não tinham muitas oportunidades de sucesso na vida a não ser um casamento bem sucedido e uma boa posição a nível social.
Também vi o filme, de 1995, com Emma Thompson e Kate Winslet nos papéis de Elinor e Marianne. Também entra o Hugh Grant, Alan Rickman, James Fleet e outras caras conhecidas. Gostei, está fiel ao livro e tem aquele sotaque britânico maravilhoso. Vale a pena ver, se gostaram do livro, mas lá está, tem um ritmo lento e acho que nem toda a gente gosta deste género de filmes, mais parados. (Classificação: 7/10)
Título: Sense and Sensibility
Autor: Jane Austen
Edição: Barnes & Noble, 2007 edition
Ano de publicação: 1811
Nº páginas: 194