Trinta e Oito e Meio, Maria Ribeiro
A Maria é brasileira. É actriz. É apresentadora. E é escritora. A Maria é muito humana. Daquele tipo de pessoas que sabem descrever um sentimento com letra maíuscula, vírgulas e pontos de exclamação. "Maria escreve como quem conversa, e conversa como ninguém", descreve Gregório Duvivier, e ainda acrescenta "Ler a Maria é ganhar uma amiga de infância". Foi isso que senti. Que estava a ler uma amiga. Uma "miúda" como eu e como as minhas amigas, com inseguranças, certezas, angústias e dúvidas. A Maria fala do quotidiano de uma forma despretensiosa e muito natural. Os gostos e as referências, musicais e cinematográficas, vão acrescentando sabor a estas crónicas cheias do que é ser mulher, mãe, filha, amiga e mais um pontinho neste mundo grande. A Maria também não perde uma oportunidade para caricaturar alguns dos seus defeitos e é quase inexistente a vergonha ou pudor que tem a falar de coisas como a primeira vez, o sofrimento com a separação do ex-marido (actor Paulo Betti), de quando discutiu injustamente com uma das melhores amigas (Carolina Dieckman) ou até do partido que toma no estado político do Brasil. Fala muito de música, de cinema, de literatura e ficamos cheios de referências para ir pesquisar. Além de ser mentora de um canal no Youtube onde vários artistas brasileiros fazem sugestões de leitura: Você é o que lê, que sigo e gosto muito.
Identifiquei-me com ela, apesar de não ter filhos, ela tem dois. Acabei de entrar nos 30, ela já passou os 40. Sou portuguesa de gema, ela é brasileirissíma. Tenho uma família unida, os pais dela separaram-se quando era adolescente. Tirando estas pequenas diferenças e o meu amor pelo verão (que ela dispensa) temos muito em comum. Lê-la, em algumas partes, foi como se entrasse na minha própria cabeça e conseguisse pôr em palavras muito do que já vivi e senti. Lê-la foi como fazer várias viagens ao fundo de mim, a memórias longínquas, ao meu passado, aos primeiros amores, às férias de família, a chegada à fase adulta sentindo que não estava preparada para isso, foi reviver desgostos de amor, reforçar o amor pelos amigos, e mais tanta coisa. Como dizem por lá, ela é muito "gostosa" de ler. Acho que se nota pela quantidade de marcações cor-de-rosa que se pode ver na foto.
"É que, assim como qualquer pessoa com um mínimo de angústia, não sou quem gostaria de ser.
Meu «eu ideal» conheceria Machu Picchu e as savanas africanas, teria lido toda a obra do Tolstói
(em vez da colecção do Tintim) e pediria, com água na boca, salada com grelhado em todos os restaurantes".
As suas crónicas são lidas por milhões de brasileiros, semanalmente. Publicadas no jornal O Globo e na revista TPM, chegam-nos, agora, na forma de livro. Um livro bom de ler, que é um docinho ao final do dia, e que não queremos que chegue ao fim. Já era fã dela, dos valores e ideais que partilha (porque acompanho o seu trabalho) e agora, ainda mais. Só não percebo como é que não gosta do Verão.
Título: Trinta e Oito e meio
Autor: Maria Ribeiro
Edição: Tinta da China (2016)
Ano de publicação: 2015
Nº páginas: 174